O Desobedoquinho de Luísa Moreira (1974-2020)

Luísa Moreira foi uma entusiasta do Desobedoc e do cinema como instrumento político e cultural. A programação do Desobedoquinho que este ano apresentamos resulta de escolhas suas, feitas originalmente para o Cinema Insuflável

Nascida no Porto em junho de 1974, Luísa Moreira cresceu e viveu em Vila do Conde, onde desde a juventude assumiu a sua militância à esquerda. Foi dirigente do PSR no início dos anos 1990 e candidata deste partido a várias eleições, um ativismo que prosseguiu no Bloco de Esquerda, em cujas listas também participou em eleições autárquicas e legislativas.

Produtora de vários projetos independentes ligados às artes de palco, Luísa Moreira foi diretora de cena do Teatro Rivoli e diretora de produção do Teatro Helena Sá e Costa. Especializada em circo contemporâneo, teve um papel determinante na programação desta área na Porto 2001, Capital Europeia da Cultura. Foi uma das fundadoras e pertenceu à primeira direção da PLATEIA – Associação de Profissionais das Artes Cénicas.

Entre os projetos ligados às artes circenses em que foi produtora e importante dinamizadora, destacam-se a Diabo a Quatro e a Corda Bamba. Trabalhou também para o Festival Internacional de Marionetas do Porto, foi professora da ACE – Escola das Artes no Porto e uma das responsáveis pela direção artística da primeira escola dedicada às artes do circo no Norte do país, o Instituto Nacional de Artes Circenses.

O ativismo político de Luísa Moreira passou pelo combate à precariedade que assola desde sempre os trabalhadores da Cultura. No Porto, participou nos coletivos FERVE (Fartos d’Estes Recibos Verdes) e Precários Inflexíveis, esteve na organização de alguns dos principais protestos contra a precariedade, tendo feito parte do núcleo fundador do Mayday Porto e tomado parte da mobilização do movimento Que Se Lixe a Troika naquela cidade.

Luísa Moreira contribuiu com artigos de opinião e reflexão sobre a situação da Cultura no Porto e no país e foi uma das oradoras presentes no Fórum Socialismo, onde, em 2009, apresentou uma sessão com o tema: “Artes Circenses em Portugal: do circo a cavalo ao novo circo sem animais”. O circo foi não apenas um tema que estudou a fundo, e de um modo pioneiro, mas também uma enorme paixão de que nunca quis desistir, o que a levou a comprar, em 2014, em França, uma enorme tenda vermelha, a que chamou Circo Girandum, que quis transformar num espaço de acolhimento a artistas e programadores do novo circo e, que “inaugurou” em Famalicão, em 2015, no contexto do festival Vaudeville.

Luísa Moreira foi uma entusiasta do Desobedoc e do cinema como instrumento político e cultural. A programação do Desobedoquinho que este ano apresentamos resulta de escolhas suas, feitas originalmente para o Cinema Insuflável. Os filmes que escolheu ajudam-nos a perceber o seu imaginário, as coisas de que gostava, a ternura que a habitava e a enorme perda que sofremos.

No dia 25 de abril, às 10h30, o Desobedoc resgata uma programação para crianças pensada pela Luísa Moreira, em duas sessões, uma mais vocacionada para as crianças entre os 3 e os 8 anos e outra, noutra sala, para a faixa etária entre os 9 e os 12. As sessões são de entrada livre abertas a pequenos e graúdos.

Eis o programa das duas sessões:

CRIANÇAS ATÉ AOS 8 ANOS

Pen Point Percussion – Norman McLaren (1951) – 5’58

Bolek i Lolek na wakacjiach “Morska przygoda” – (Aventura no mar) – Wladyslaw Nehrebecki (1966) – 9’15

Josué e o Pé de Macaxeira – Diogo Viegas (2009) – 11’56

Mobile (Animation) – Verena Fels (2010) – 6’25

La Maison en Petits Cubes – Kunio Kato (2008) – 12’03

CRIANÇAS DOS 9 AOS 12 ANOS

I’m Here – Spike Jonze (2010) – 31’47

Vincent – Tim Burton (1982) – 5’53

Danny Boy | Future Shorts – Marka Skrobeckiego (2010) – 10’18

Un Oeuf Is Enough – Federico Vitali (1996) – 3’34

Houston… We Have A Problem – Federico Vitali (1996) – 3’13

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