DESOBEDOC

 

CINEMA INSUBMISSO DE VOLTA AO PORTO

O Desobedoc começou no Trindade e depois foi no Batalha. Ao fim de 15 anos fechado, o Trindade está desde 2017 em pleno funcionamento e o Batalha está finalmente a ser recuperado para voltar a ser um cinema da cidade. Ao reabrirmos por alguns dias salas há tanto tempo abandonadas, ajudámos a demonstrar que havia público para ocupá-las em permanência. Missão cumprida? Ainda não.

Voltamos este ano ao Porto, num espaço que muitos conhecerão: o CCOP. Com 120 anos de idade, este foi o primeiro Círculo Católico Operário do país, nascido em 1898 para lutar por salários justos e pelo descanso ao domingo. Aqui, a classe operária procurou escapar à escravidão do trabalho, roubando horas à família e ao sono para fazer jogos e jornais, canções e panfletos, teatro e desporto, para ouvir as lições dos educadores ou dos apóstolos, para conquistar mais tempo livre.

Nestes últimos anos, o CCOP é uma demonstração de um Porto que resistiu e se reinventa, misturando experiências e gerações refratárias à transformação da cidade num imenso hotel, mantendo velhos sócios e acolhendo novos, dando espaço a artistas que não são mercadoria. Também por isso estamos aqui: para sermos parte dessa resistência, num Desobedoc que circulará entre a velha sala das taças que fazem a memória de associação e o auditório novo em folha.

Cá estamos de novo no Porto. Por gostarmos de cinema, de o partilhar, de o programar e de vê-lo em conjunto, de nos emocionarmos ao ponto de ficarmos mudos ou de querermos falar muito sobre o que vimos.

No 25 de abril, começamos com a memória do Processo Revolucionário. Numa Europa e num mundo em que a onda autoritária ressurgiu em força, relembraremos os presos políticos do Porto e teremos também a estreia em Portugal de um filme sobre a luta contra a amnésia dos crimes do franquismo. Revisitamos um documentário perseguido já depois da Revolução de abril, que esteve na origem do movimento contra a criminalização do aborto – ao mesmo tempo que debatemos os feminismos de hoje a partir das imagens das mobilizações recentes e prestamos homenagem a uma mulher de luta e de paixões múltiplas pelo cinema: Agnès Varda. Com duas estreias, damos voz aos condenados ao gueto de Gaza e à cólera multiforme dos coletes amarelos franceses. Abrimos espaço para o Porto invisível, para o Brasil que parece ter o passado pela frente, para a comunidade cigana romena e para as vítimas das alterações climáticas. Abrimos espaço para o Porto invisível, para o Brasil que parece ter o passado pela frente. Dedicamos “Um Canto de Amor” ao António Alves Vieira. Teremos o Desobedoquinho nas manhãs de sábado e de domingo. E terminamos, como sempre, com um clássico, passado na Roma da década de 1930.

O resto, já sabem: estão convidados e convidadas a aparecer e a passar palavra. Como sempre, a entrada é livre e o espírito insubmisso.

JOSÉ SOEIRO 

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