O Desobedoc nasceu no Porto há 5 anos, para mostrar que era possível abrir salas de cinema encerradas e criar espaços onde filmes e documentários pudessem ser vistos, partilhados, discutidos. O Trindade, cinema que esteve fechado durante anos e onde nasceu esta mostra, foi entretanto devolvido à cidade. O Cinema Batalha, reaberto temporariamente pelo Desobedoc, está agora em vias de voltar a funcionar em permanência como Casa de Cinema. Este ano, é o cinema Ícaro, encerrado há mais de 15 anos, que abrirá as suas portas: o Desobedoc está a passar por Viseu.
Nada disto é um acaso. A cultura tem sido o parente pobre do orçamento. Se é verdade que passou a haver Ministério, falta uma estratégia, recursos e capacidade de pensar o país como um todo. No Interior, o acesso à cultura – ao património e à criação artística – é ainda mais limitado. Há grupos, companhias, cineclubes, associações e espaços que resistem. Mas falta uma resposta pública que chegue a todos e o compromisso do Estado central e local.
Esta mostra é uma forma de resistir a este estado de coisas. É um gesto concreto para mostrar que é possível abrir salas e programar cinema, pôr em comum memórias e debater lutas e insubmissões.
Nos 50 anos do maio de 68, o Desobedoc multiplica-se. Em Viseu – mas também em Braga, Coimbra, Évora ou Vila Real – teremos filmes sobre trabalho e sobre diversidade, sobre colonialismo e lutas pelo ambiente, sobre a vaga feminista e sobre o golpe brasileiro, sobre a intersecção das lutas e sobre o legado do espírito de desobediência de 68. Teremos conversas, música, performances e exposições.
A entrada é livre. Venham ser cúmplices.
José Soeiro