Só que aquando desta estreia os tempos tinham mudado. Vale a pena recordar o que aconteceu após a projecção do filme no Salão Foz, em Lisboa, no decorrer do Congresso Internacional da Crítica, através das palavras de Henrique Alves Costa:
“Esta ante-estreia foi um escândalo. Perante a surpresa dos congressistas estrangeiros, os espectadores portugueses, na sua maioria, vaiaram ruidosamente o filme. O tema, o ritmo, a montagem rápida de algumas sequências, irritaram o público (em grande parte selecto e burro). A projecção foi sublinhada com constantes assobios e terminou com uma estrondosa pateada. Ao intervalo e, ainda, já terminado o espectáculo, muitos espectadores e alguns dos críticos (!?) portugueses ferviam de indignação: ‘um sem jeito aquelas imagens vertiginosas! uma vergonha mostrar a estrangeiros aquelas mulheres enfarruscadas, com carretos de carvão à cabeça, de pé descalço… aquelas nojentas vielas do Porto… aqueles prédios leprosos do Barrêdo.’
Depois da pateada de 1931, apesar dos elogios da crítica estrangeira e de alguns dos mais destacados intelectuais portugueses, como José Régio e Adolfo Casais Monteiro, Douro, Faina Fluvial só viria a ser reposto em sala em 1934, no Teatro de São João do Porto, como complemento do filme Gado Bravo, de António Lopes Ribeiro.
Pelas citações que faz de outros autores Douro, Faina Fluvial demonstra que o melhor cinema estrangeiro era do perfeito conhecimento do seu autor. Não surpreende. Os grandes filmes internacionais passavam nas salas do Porto e havia revistas especializadas – quer antes quer depois do golpe militar de Gomes da Costa de 28 de Maio de 1926 – que iam ao encontro de um gosto cinéfilo cada vez mais alargado. Vejamos dois exemplos.
O Porto Cinematográfico, fundado em 1919 por Alberto Armando só viria a extinguir-se em 1925. Em 1923, acompanhando de perto a actividade da Invicta Filme, Roberto Lino fundou a Invicta Cine, a qual foi publicada regularmente até 1936. Qualquer das revistas investiu no apoio ao cinema português, sem perder de vista aquilo que ia pelo mundo e dedicando parte do seu espaço à crítica.
A Invicta Cine envolveu-se na polémica que envolveu o advento do som assumindo um papel pioneiro em sua defesa. Foi devido ao entusiasmo de alguns dos seus responsáveis que se criou no Porto a primeira associação cinematográfica, embrião do futuro movimento cineclubista. Essa Associação dos Amigos do Cinema, fundada em 1924, apesar de relativamente limitada na acção que desenvolveu, propunha-se “defender o cinema nacional, moralizar o cinema por meio da palavra escrita ou falada, fomentar o entusiasmo pela Arte do Silêncio e produzir películas logo que a situação financeira o permitisse”.
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